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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Um poeta promissor

'Ruas cheias, ruas vazias', poesia de Victor Leite Rodrigues de Oliveira:


Levantei com vontade de me esquecer, espairecer, distrair;
Aí resolvi sair, dar uma volta, curtir o movimento da cidade…
Meu Deus! Como estava cheio! Parecia que fazia anos que não saía.
O espaço parecia menor, os prédios demais estreitaram as ruas.
E como tinha gente na rua! E andavam e andavam… E como andavam rápido!
Parecia que eu nem sabia mais andar, não conseguia acompanhar.
Bestificado, eu só sabia observar.
A multidão me engolia, eu tentava me situar.
Não sabia mais onde estava, me perdi no fluxo tentando me achar.
Me distraí, esbarrei.
“Ô senhor, desculpa aí.”
Não houve reação, só continuou a andar.
Me assustei, comecei a recuar enquanto olhava.
No pé pisei.
“Perdão minha senhora.”
Nem olhou, continuou.
Parece que nem pisei, parece que nem respirava.
Olhei, parei.
Esbarraram em mim, caí.
“Sem problemas, não foi nada.”
Estava rápido demais pra me ouvir.

Levantei, me arrumei e então percebi.
Comecei a olhar o movimento, me paralisei.
Pessoas andavam a passos rápidos, nunca acompanhadas.
Andavam sem parecer nem olhar,
Se esbarravam em alguém, desviavam e continuavam, mas pareciam nem esbarrar.
Tentei avistar pra onde iam, mas parecia que iam a nenhum lugar.
Só faziam andar, o mais rápido que podiam.
O mais rápido que podiam, só isso sabiam.
Então olhei suas roupas, saber se vestiam.
Eram práticas, não precisava passar, não precisava escolher, bastava comprar.
Até que não eram de mal gosto, mas também gosto não tinham.
Reparei, comparei o rosto de cada um.
Era sempre a mesma expressão que nada dizia,
Era como se não houvesse rosto algum!
Corri, nesse momento o mais rápido que podia,
Mais rápido que todos, mas pra fugir.
Nesse momento me olharam;
Era como se indignassem – como corria mais rápido que eles?
Me olharam, mas era como se não me vissem.
Não falavam, não ouviam, mal sentiam.
E, quando eu sumi, continuaram…
Eu só corria, gritava e corria.
Onde eu estava? Num filme futurista, num pesadelo, num conto de terror?
Não! Não! Era a realidade mesmo, o mundo que escolheram!

Decepcionado, apavorado e desorientado,
Me afastei do movimento da cidade, cheguei na periferia.
A periferia era um parque, uma calçada encostada,
Mal tinha espaço pra nada, era quase no centro da própria cidade.
A cidade era tão desenvolvida que mal havia periferia.
Lá, porém, tinha gente de verdade, parecia, mas era quase vazia.
Esses me olhavam e me viam, e choravam e protestavam:
“Não ouviram o mundo!”, o músico dizia.
“Não sentiram a vida!”, clamava o poeta.
“Ignoraram os meus alertas!”, lamentava o profeta.
“Faltou-lhes Deus…”, corrigia o excomungado pastor.
“Souberam demais!”, justificava o cientista.
“Esqueceram-se do amor!”, dizia o sábio senhor.
“Tiveram tudo o que eu não tive.”, falava o mendigo.

Eu ouvia o que me diziam, e fiquei ali, acolhido.
E todo mundo conversava, e todo mundo chorava.

Agora eu percebia o que realmente acontecia,
E dali, daquele pequeno pedaço de mundo que restava, eu observava.
Havia ainda esperança?
Eu procurava, perante a cidade silenciosa,
Enquanto um temor se aproximava ao imaginar o que poderia ver…
Então eu via e gritava, e agora também chorava, diante da cidade esplendorosa,
E via como a gente corria, até que um homem caía,
Caía e como porcelana quebrava, como jarra vazia.
Seu corpo caía e sua vida que não tinha se esvaía.
Ele quebrava e ninguém ao redor olhava, só prosseguia.
Então uma senhora idosa passava, nele tropeçava e também caía.
Caía e se quebrava, perdia a vida que não teve, também estava vazia.
Então a criança passava, corria mas não brincava, só corria e nos cacos pisava
Até que também caía e se quebrava, perdia a vida que não teria: estava vazia!
Eu, de onde sentava, observava como ninguém respondia.
Observava e me desesperava, via muito mais do que temia.
E eu chorava e gritava, e lamentava, e chorava e me compadecia
Daquelas ruas tão cheias,
Daquela cidade vazia.

FIM


Linda, né? Que talento tem esse rapaz! Confira mais sobre este autor, suas frases e sua poesias de muita qualidade. Seu blog principal é o http://nossocultoracional.wordpress.com/ e no twitter sua conta é @_rodriguesvic . SIGAM-NO OS BONS! =D

Victor é um dos personagens do meu livro reportagem 'E a poesia, afinal?'. Em breve contarei a história do dia em que o conheci e sobre a nossa relação de amizade desde então. Agora não dá. Tô 'no meio' da criação de uma poesia. hehehe.

FUI!

Um comentário:

  1. Só posso agradecer pelas palavras, pelo apoio e incentivo, de coração mano! É tudo nosso, se você tá dizendo que é boa a poesia, então é boa, vou falar o que né? Haha.

    Abração, tamo junto!
    Fica na paz!

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